Drogas K: substâncias que causam efeito “zumbi” em seus usuários

Por Nicole Rangel Correia

O que difere as drogas K9, K4 e K2 é apenas a maneira em que são consumidas: seja em pipeta, seja em papel, seja misturada com ervas para fumo em cigarro.

Quantidade de “drogas K” em quilogramas apreendidas em 2021, 2022 e 2023 (até abril) pelo Departamento de Investigações sobre o Narcotráfico da Polícia Civil do Estado de São Paulo.

As drogas K, conhecidas popularmente pelo nome “maconha sintética” (a associação não é correta), são entorpecentes feitos em laboratório, pertencentes ao novo grupo de Substâncias Psicoativas. Nas ruas, elas são comercializadas como “K9”, “K2”, “K4” e “spice” com um preço acessível, o que tem popularizado a venda dessas drogas pelo Brasil. 

Segundo dados do Departamento de Investigações do Narcotráfico da Polícia Civil do estado de São Paulo, a quantidade de drogas K apreendidas nos 3 últimos anos tem crescido: em 2021, 5,7 kg; em 2022, 11,7 kg e em 2023, 15kg (até abril). Em março deste ano, o Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc-SP) atestou que combater as drogas K é prioridade para a Segurança Pública. 

Mas, por que “maconha sintética” e por que essa nomenclatura está errada?

Quando entram no organismo, as drogas K ligam-se ao receptor endocanabinóide (mesmo receptor que os canabinóides atuam), imitando os efeitos do THC, princípio ativo da maconha mais conhecido. Por essa razão, o nome “maconha sintética” foi atribuído às drogas K. Contudo, especialistas afirmam que essa associação é equivocada, uma vez que, chamando a droga de um tipo de “maconha”, sua gravidade pode ser amenizada. Os efeitos das drogas K são ainda mais nocivos que a maconha, podendo levar à taquicardia, alucinações, convulsões, ansiedade, movimentos estereotipados, dependência e morte.

Como a droga surgiu

Como mencionado anteriormente, as drogas K são feitas em laboratório, não existem na natureza. De início, as substâncias foram criadas acidentalmente na tentativa de encontrar medicamentos pelo químico norte-americano John W. Huffmann. O cientista sintetizava canabinóides na busca de aliviar o sofrimento de seus pacientes. Em 1993, porém, a publicação da fórmula de um dos seus compostos sintetizados mais tarde resultaria na venda da substância em folhas de planta com o nome “spice”. As drogas K são mais um sucesso do chamado “designer drugs”, termo que identifica drogas sintéticas criadas em laboratório por acidente. 

Entenda o “efeito zumbi”

Os canabinóides sintéticos (nome técnico da droga) atuam na mesma região que o THC da maconha, mas de maneira 100 vezes amplificada. As substâncias atingem o sistema endocanabinóide, que determina funções fisiológicas do corpo como fome, imunidade e sono. Quando ativado intensamente pela droga, o usuário experimenta o efeito “zumbi”: movimentos lentos, perda de sentidos, alucinações, sonolência, entre outros. 

Até o momento, as informações a respeito das drogas K e seus efeitos no organismo são escassas, o que dificulta o trabalho de investigação e apreensão. Além disso, essas drogas são facilmente dissolvidas em outros materiais (como chás, por exemplo) pelos traficantes para dificultar a fiscalização da polícia. A dependência gerada pela substância também pode levar seus usuários a cometerem graves delitos a fim de sustentar seu consumo.