FTP e o recorde da hora

Estudos tem indicado que o teste de limiar de potência funcional no ciclismo (FTP) produz resultados válidos, fidedignos e reprodutíveis com baixo desvio padrão. O FTP representa a potência média mais elevada que um ciclista é capaz de manter ao longo de uma hora. Entretanto, tradicionalmente o teste é realizado com duração de apenas 20 minutos e neste caso, a maior dificuldade é ser capaz de manter a potência máxima para o tempo proposto.

Ao multiplicarmos a potência média registrada ao longo de 20 minutos por 0,95 obtemos o FTP do atleta. Alguns autores sugerem que o teste seja precedido de 20 minutos de aquecimento leve seguidos de 3 estímulos de 1 minuto com 100 rotações intercalados por 1 minuto de repouso e em seguida, 5 minutos de recuperação adicional antes de realizar 5 minutos em intensidade máxima. Ao final destes 36 minutos de preparação, o ciclista deverá realizar 10 min de giro leve antes de dar início ao teste efetivo de 20 minutos que também deverá ser seguido de recuperação de 10 minutos com giro em intensidade moderada. Ao todo, a avaliação dura 1h e 06 minutos e deveria ser realizada pelo menos a cada 8-12 semanas de treinamento. Se o FTP corresponde à intensidade de limiar do lactato que pode ser sustentada por 60 minutos de ciclismo, sessões que pretendam melhorar o VO2 máximo deveriam ser realizadas entre 110120% do FTP em intervalos de 3-8 minutos ao longo de 30-40 minutos. Tal intensidade corresponderia a estímulos que utilizariam toda a reserva de frequência cardíaca do atleta e deveria ser restringida a 1 única a cada 10 dias em determinadas fases do treinamento.

Neste contexto, em coerência com alguns princípios da periodização polarizada, a maior parte do treinamento deveria ser realizada entre 55 e 75% da FTP em contexto que corresponde em muitas correlações à 70-80% da FC máxima, mas que muitos autores consideram elevada para ser implementada concomitantemente com volumes superiores a 300Km semanais. Intervalados realizados a 100% do FTP devem ser realizados semanalmente na fase específica do planejamento e devem ter duração entre 10-30 minutos. Objetivam melhorar o limiar do lactato e a possibilidade de utilizar cada vez maiores frações da potência aeróbica máxima. Neste contexto, alguns autores calculam a potência das sessões de limiar e de VO2 máximo, multiplicando o FTP respectivamente por 1,05 e por 1,20. Assim, a maior parte das sessões seria realizada em intensidade baixa calculada pelo produto do FTP pelo fator 0,75. Assim como o teste FTP, todas as intensidades deverão ser regularmente repetidas a fim de nortear os rumos das próximas sessões do planejamento quando se pretende maximizar o potencial de rendimento de um ciclista. Percentuais de incremento de 2,5% a cada 8 semanas são considerados excelentes e representam a taxa ótima de melhoria do rendimento desejada.

Cumpre salientar que com o tempo e sucesso das adaptações, além das melhorias em termos absolutos, as mudanças na composição corporal do atleta modificarão sua razão entre potência e peso corporal. Ciclistas profissionais podem sustentar cerca de 6,8 watts por quilo em testes de 20 minutos. Para aqueles da elite com cerca de 70Kg, isso corresponderia a cerca de 450 watts em 60 minutos ou algo muito próximo do que foi realizado no velódromo pelo belga Victor Campenaerts que estabeleceu o recorde dessa modalidade em 2019 percorrendo 55.089m. 47 anos atrás, Eddy Merckx batia o mesmo recorde em local hoje proibido (Cidade do México) percorrendo 49.431m.