Treinamento fisico reduz o estresse oxidativo no sistema nervoso central e atenua a hiperresponsividade do quimioreflexo em pacientes com falência cardíaca

O treinamento físico é uma das principais ferramentas terapêuticas nas doenças cardiovasculares, sobretudo na hipertensão arterial e na insuficiência cardíaca. Seus benefícios estão diretamente relacionados com a redução da síntese das espécies reativas de oxigênio e o aumento da expressão de enzimas antioxidantes.

Recentemente, diferentes grupos de pesquisa demonstraram através de modelos experimentais de hipertensão arterial e insuficiência cardíaca, que o treinamento físico reduziria a atividade nervosa simpática cardíaca, renal e vascular, contribuindo para a inibição do remodelamento cardíaco induzido pelo infarto agudo do miocárdio, bem como para a diminuição da resistência vascular periférica e da pressão arterial em hipertensos. Tal efeito encontra-se associado à redução do estresse oxidativo em áreas do sistema nervoso central como o núcleo do trato solitário, a região rostral da medula ventrolateral e o núcleo paraventricular do hipotálamo.

Em agosto de 2021, o Laboratório de Controle Cardiorrespiratório da Universidade Católica do Chile, chefiado pelo professor Rodrigo Del Rio, evidenciou em animais com insuficiência cardíaca que a redução do estresse oxidativo no núcleo retrotrapezóide, região do bulbo povoada por neurônios que respondem a oscilações no pH sangüíneo e na pressão parcial de CO2, reduz o aumento exagerado da ventilação minuto em resposta à hipercapnia. Também foi constatado que o treinamento físico promovia tanto a redução na expressão da subunidade Nox2 da NADPH oxidase, principal fonte de ânion superóxido no sistema nervoso central, quanto aumento da expressão de enzimas antioxidantes como catalase, glutamo-cistéina ligase e NAD(P)H dehidrogenase [quinona] 1 no núcleo retrotrapezóide. Além da exacerbada resposta ventilatória ao estímulo hipercapneico, animais com insuficiência cardíaca apresentam maior variabilidade do intervalo entre cada respiração, o que desencadeia maior incidência de episódios de apneia e hipopneia. Tais alterações foram corrigidas pelo treinamento físico graças às referidas adaptações bulbares centrais.

Este inovador estudo produzido pelo grupo do professor Rodrigo Del Rio expande nossas fronteiras sobre a compreensão dos efeitos fisiológicos e moleculares do treinamento físico no sistema nervoso central.

Nos cursos de pós-graduação da PUC-RJ, com a participação do professor Gustavo Masson, doutor em fisiologia pela USP com pós-doutorado em laboratórios da Harvard University, aprofundaremos a discussão a respeito do quimiorreflexo discutindo como este importante mecanismo regulatório encontra-se alterado em diversas patologias, e esclarecendo os mecanismos pelos quais o treinamento físico pode influenciar a sensibilidade dos quimiorreceptores. PMID: 34216779